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Todos nós já tivemos sonhos inesquecíveis. Muitas são as histórias de cientistas e artis-
tas que encontraram neles respostas e inspirações. Assim, o químico Kekulé, ao sonhar com uma serpente mordendo a própria cauda, vislumbrou que a molécula de benzeno teria a forma de anel. O escritor Robert Louis Stevenson sonhou o enredo que originou o clássico O Estranho Caso do Dr. Jekyll e o Sr. Hyde (o médico e o monstro). Também foi a partir de um sonho que a escritora Mary Shelley criou Frankenstein.
Sonhos podem ser experiências místicas, tendo grande valor em todas as tradições religiosas. Assim, a Bíblia é repleta de mensagens oníricas de origem divina, como o anjo que avisa São José do nascimento de Jesus. Santa Terezinha do Menino Jesus narra em sua biografia o sonho, no qual se encontra com irmãs santificadas que lhe prometem que em breve será recebida no Paraíso. Muitos contam que foram avisados em sonhos de mortes de pessoas próximas, de catástrofes, ou grandes mudanças iminentes. As ciências não têm explicação para isso, mas esses relatos não podem ser ignorados ou banalizados, pois muito numerosas são as histórias de comprovadas relações temporais entre os sonhos e os acontecimentos na vida de quem os sonhou.
Em 1900, o médico neurologista Sigmund Freud revolucionou as concepções sobre a mente humana com sua obra A interpretação dos sonhos. Nela, ele propunha a existência do inconsciente como fonte da energia que nos move e os sonhos como a sua manifestação. Assim, os conteúdos oníricos revelariam nossos desejos. Entretanto, esses conteúdos precisariam ser cuidadosamente interpretados, pois o enredo narrado, conteúdo manifesto, consistiria apenas na camada externa a ser desvendada, revelando o conteúdo latente.
Discípulo de Freud e psiquiatra, Carl Gustav Jung também entendeu os sonhos
como porta para a compreensão do inconsciente, mas introduziu novos conceitos,
como o de arquétipo. Este seria uma imagem com forte carga de energia que
representaria simbolicamente uma possibilidade da experiência humana. Os
arquétipos aparecem nas lendas, nos contos de fadas, nas mitologias, mas também
nos sonhos, constituindo o inconsciente coletivo. Por exemplo, a deusa mãe, a
criança divina, a bruxa, o louco surgem revestidos com diferentes aparências em
todas as culturas, pois são uma possibilidade de vivência que todos nós carregamos.
Assim, em sonhos arquetípicos, estas imagens aparecem e são uma forma do nosso
inconsciente nos enviar a sua mensagem. A pessoa que sonhou percebe
intuitivamente a importância do sonho, mas pode ter dificuldade em
compreendêlo. Aqui o terapeuta teria o papel de acompanhá-la no processo de
auto-
descoberta. Embora brilhantemente elaboradas, as teorias psicodinâmicas são muito contestadas pela falta de evidência empírica. Ademais, a interpretação que o terapeuta fornece sobre os sonhos do paciente sofre influência do inconsciente do próprio terapeuta.
Seguindo outro caminho, eletrofisiologistas vêm estudando as mudanças na atividade cerebral associadas às fases do sono e assim descobriram que os sonhos acontecem principalmente na fase de sono profundo, também chamada de sono REM, ou sono paradoxal. O nome REM é sigla para Rapid Eye Movements e descreve os movimentos oculares que se observam na pessoa dormindo. Acredita-se que correspondam à resposta de direcionar o olhar para as imagens dos sonhos. O termo paradoxal remete ao fato de que o sono REM é ao mesmo tempo a fase de adormecimento mais profundo com perda do tônus muscular, mas se acompanha de atividade cerebral tão intensa como a de uma pessoa acordada.
Apesar da importância desses achados, ainda hoje as Neurociências não têm uma resposta definitiva à pergunta por que sonhamos. De fato, pela sua natureza tão subjetiva e impalpável, os sonhos são um objeto de difícil investigação. Alguns cientistas (Hobson-McCarley, 1977) acreditam que eles sejam apenas a tentativa do cérebro em sintetizar e atribuir sentido à atividade cerebral aleatória que ocorre durante o sono. Outros defendem que sejam fundamentais para a memória_ proporcionando o processamento e o armazenamento de experiências relevantes, ainda outros entendem que os sonhos nos possibilitem ensaiar e assim nos preparar para situações futuras.
Independentemente da
ciência, a vida nos mostra claramente que os nossos sonhos não se dão por acaso e que eles merecem ser ouvidos. Mostram o que nos preocupa, o que nos negamos a perceber, ou a aceitar, o que tememos, retomam memórias passadas, obrigandonos a admitir que algumas experiências ainda não foram superadas. Os sonhos podem ser mágicos, quebrando a lógica do tempo e do espaço, permitindo fusões, transposições e a intensidade de vivência por que a nossa mente anseia, mas que o cotidiano nos nega.