Revolução afetiva, marca fundamental da nossa geração, envolve transformações culturais, iniciadas pelo movimento romântico do século 19, que deram origem a uma sentimentalização da experiência humana, e que submeteu todas as esferas da vida ao afeto. Quando falamos de “Revolução Afetiva”, não estamos limitando o assunto às questões de gênero e sexualidade.
Essa é a tendência humana, a alma do humanismo moderno, e a inclinação natural da cultura impregnada em nossa sociedade moderna, uma espécie de culto à personalidade. E todas as áreas da vida estão afetadas por esta tendência. Basta olhar os temas do momento: o capitalismo afetivo, a pedagogia afetiva, escrita afetiva, e até restaurantes da alta gastronomia para a culinária afetiva.
O sociólogo Norte-americano, crítico cultural, Philip Rielf no seu livro “O triunfo da terapêutica” (1966), estava certo em diagnosticar que a sociedade moderna estava iniciando o processo para um novo tipo de ser humano, o homo sentimentalis, um ser ensimesmado, que não aceita correção, não se mede pela moral e que só quer ser agradado. É o que vemos. Esse novo modelo de ser humano é guiado por suas emoções e a satisfação de suas emoções transformou-se no critério último para julgar a legalidade ou não da existência humana.
Consequentemente, ele só faz o que lhe dá prazer. Se atravessar uma velhinha na rua lhe der prazer, ele atravessa a velhinha na rua, tira foto e coloca nas redes sociais. Mas, se o que lhe der prazer for dar um pontapé na canela da velhinha, ele assim o faz. Ele não se interessa pelo é moral, mas pelo que lhe dá satisfação.
Essa sentimentalização da vida é um desafio para a nossa sociedade e para a espiritualidade moderna. Os conflitos interiores dessa revolução afetiva são inúmeros, pois já dizia a filosofia, o homem é um ser eternamente insatisfeito.
O outro grande desafio desse Homus emotivus, é relacionado a fé cristã, que é o oposto desse sentimentalismo. Ao falar do “Amor” a Bíblia jamais o descreveu como um sentimento, ou uma emoção ou uma mera experiência da vida. Assim podemos entender porque o “amor cristão” é tão questionado pelo espírito da nossa época, diante de certas demandas e conceitos construídos por esta sociedade moderna.
A Bíblia nos ensina que “Deus é amor”. E o apóstolo João em sua Primeira Carta, assim expressa: “Amados, amemos uns aos outros, porque o amor procede de Deus e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” (I Jo.4:7). Esse amor de Deus, a grande matriz para o amor humano, levou o Pai a Sacrificar o Próprio Filho. Como o homo sentimentalis vai compreender esse Amor de Deus, generoso e sacrificial, com estes seus critérios sensoriais? O amor é um comprometimento moral, um pacto a cumprir com sangue, uma ação proposital, uma entrega de si mesmo em prol do outro, uma disciplina de obediência e até sacrifício. Muitas vezes, para amar, tem que negar a si mesmo e pensar no bem do outro.
É difícil convencer nossa geração “emotivus” que a satisfação de nossas emoções, nossos sentimentos, ou nossas experiências de vida não são o padrão para sabermos se somos amados e se estamos amando de fato.
A Bíblia ensina que a maior prova de amor conhecida pelo homem foi Deus ter dado o seu único Filho por nós. Então, se você quiser entender o Amor não olhe para os romances, ou sentimentos, olhe para a Cruz. Amor é serviço, é entrega generosa.
C. S. Lewis no seu livro Os Quatro Amores, nos alerta que “se ignoramos a verdade de que Deus é amor poderá traiçoeiramente vir a significar para nós o inverso, isto é, que o amor é Deus”. Assim podemos vencer o assédio da revolução afetiva que tenta transformar o amor em um falso deus. Deus é amor, mas o amor não é Deus